sexta-feira, setembro 24, 2004

Regressar antes de partir

Como prometido, este blogue acompanha o IndieLisboa, festival de cinema independente. Reabre apenas para esse efeito, fechando definitivamente após o festival. Não se assustem os que aqui gostam de estar. O Just a Kiss? vai regressar às origens, neste caso, à Origem. A Origem do Amor desapareceu e deu lugar a duas experiências blogosféricas: por um lado o Just a Kiss?, um blogue sobre cinema, por outro o Elas+Eles, mero exercício de experimentação blogosférica. O tom, o tipo de escrita, a forma de comunicar, criada no Origem do Amor, teimou em influenciar estes blogues. Por essa razão, obriguei-me a parar e reflectir. A Origem do Amor marcou-me, continua a marcar-me, e acredito agora que não pode desaparecer. A Origem do Amor regressa em pouco tempo. Fechemos então este blogue em grande, com um festival.

terça-feira, agosto 03, 2004

Alpha Beta @ blogspot

Um só post não só dá para os dois lados, como dá para os três. Os meus três blogues, tão diferentes entre si, que tanto me pedem, que parecem por vezes chupar-me todo. Por isso às vezes ficam abandonados. Eu, blogger assumido, vejo-me obrigado a colocar os meu blogs de castigo. Deixo-os ali a um canto, faço de conta que não estão lá, chego até a pensar que a nossa relação está acabada. Depois vem o Borges e estraga a festa toda. Lembra-me que eles existem, que há quem os goste de ler. Então, é ver o blogue (esse grandessíssimo filh...) a rir-se de mim. Eu já sabia, parecem gozar-me os três blogues. E eu sei que lá volto, e sei que nunca conseguirei daqui sair. Mas em certas alturas, quando se fala de palavras e textos virtuais, há que mostrar que ainda somos nós que mandamos, embora no fundo o qualquercoisa.blogspot já nos tenha pela trela. Eu hei-de cá voltar, inevitavelmente. Grande Borges, quanto aos elogios não sei se terás razão. Mas concordo nisso de ser boa pessoa. Ao menos, valha-nos isso!

Um grande abraço, e um termo que ninguém gosta de colocar nos blogues: um simples hehe.

quinta-feira, julho 15, 2004

Talvez o melhor episódio de sempre

Não consigo contar as dezenas de conversas sobre o audiovisual português em que já ouvi centenas de argumentos diferentes para a razão da ficção televisiva nacional não resultar. Uma vez que sou boa pessoa vou aqui apresentar a verdadeira solução e esperar pelos resultados. Sopranos. Season 2. Episódio número 22, de seu título “From where to eternity”. Christopher está no hospital em estado grave depois de ter sido baleado. De repente o seu coração pára, a máquina silva aquele sinal vital seguido de que a vida se foi, os médicos lutam para trazê-lo de volta. E nós o espectador só pedimos para que aquilo não esteja a acontecer, mas que Christopher fique entre nós. Depois, vem o alivio.

É assim meus senhores, que se escreve ficção.

sexta-feira, julho 09, 2004

Este post é para ser lido muito rápido

Eu sei que não é cinema.
Que não tem nada relacionado com a temática do blogue.
(Agora ler ainda mais rápido)
Quase Famosos e Esplanar!
Obrigado.


Quem manda aqui sou eu.


Tum ... tum, tum tum tum,
Costa Santos!

quarta-feira, julho 07, 2004

A minha primeira vez

Dia 7 de Julho de 2004

Querido blogue:
Hoje estou muito preocupado e não consigo dormir. Agora que estou a escrever estas palavras são duas e meia da manhã. Acho que não vou conseguir dormir porque estou com os nervos em franja. Amanhã, vai ser a minha primeira vez. Vai ser com a Sofia. Eu e a Sofia já curtimos uma vez em 1999. Foi muito bom e fiquei muito surpreendido por gostar tanto. Mas foi só beijinhos e carícias, e acabei por continuar virgem o que me deu para ter instintos suicidas pela primeira vez. Depois a Sofia desapareceu, e o ano passado contaram-me que andou com toda a gente e que toda a gente gostou muito. Agora parece que chegou a minha vez. A Sofia diz que quer fazê-lo amanhã comigo. Disse para eu estar na Cinemateca às 21:30 porque é lá que ela quer ter relações. Eu não percebo porquê. Dizem que a Cinemateca é um sitio assim meio estranho onde passam uns filmes a preto e branco que ninguém percebe. Ela lá sabe. Claro que eu disse logo que sim, pois não posso perder estar oportunidade. Mas sabes, querido blogue, o amor é realmente um lugar estranho. Portanto, amanhã vou deixar de ser virgem (não contes a ninguém) e estou por isso muito nervoso. Dizem que dói muito, e isso preocupa-me, mas por outro lado também dizem que no fim sentimos uma felicidade muito grande e só nos apetece fazer outra vez. Ai, espero que seja bom, e que as horas até lá passem a correr. Depois conto-te tudo, meu querido blogue.

Até amanhã.

terça-feira, julho 06, 2004

O peso da cultura

Na Cinemateca encontram-se algumas das mulheres mais belas que já vi em Lisboa. Pena que andem todas a olhar para o chão.

O ciclo continua

O mais curioso nos Cassavette’s que passam agora na Cinemateca é que existe sempre um ou outro espectador que se levanta da cadeira quando faltam 5 segundos para o filme acabar. Este manifesto do “eu-já-vi-e-sou-tão-culto-em-cinema-que-aqui-o-provo-a-todos-estes-inferiores-sentados-na-sala-que-não-sabem-o-que-é-cinema”, é engraçado. Depois há aquele que gosta muito de rir a alto e bom som em certas cenas, mas nunca se ri em cenas hilariantes de realizadores comerciais. Gosto muito da Cinemateca, porque ali posso sempre ver dois filmes ao mesmo tempo na mesma sala. Quero já agradecer aos responsáveis por este espaço o empenho e dedicação. Acreditem que foram ao detalhe de colocar Animatronics que são autênticas personagens fascinantes. Uns no bar, outra nas escadas, uns no corredor. Gosto muito. Quem não tem visitado os Cassavete’s que por lá têm passado ainda vai a tempo. Ainda há muito para ver e descobrir. No meu caso, hoje foi dia de descobrir os fantásticos John Marley, Seymour Cassel, Everett Chambers, e uma das mulheres mais belas de sempre: Stella Stevens

sábado, julho 03, 2004

No meu tempo, às 21:30, cama!

Portugal está a mudar. Sociólogos olham espantados para as muitas bandeiras nas paredes. Jornalistas comentam espantados a confiança dos portugueses, a certeza na vitória que deu lugar ao eterno queixume do “vai ser difícil” e do “ir aos quartos já é bom”. Muitos bocas afirmam que o povo está a evoluir, que estamos a crescer mais depressa. Mas digam-me uma coisa: uma sessão de Shrek 2 à meia-noite em versão dobrada não será pôr o carro à frente dos bois? Vamos lá com calma.

A eterna questão do sublime

Umas das personagens de ficção que mais me fascina é Tom Ripley, talvez porque não o compreenda. A sua criadora, Patricia Highsmith, conhecia uma das regras fundamentais de um bom contador de histórias: amar os vilões. O vilão, se é que podemos adjectivar Ripley desta forma, deve sempre ser escrito de forma amoral. Não, não precisamos de o compreender nem ajuizá-lo. Analisando os vários psicopatas do cinema e da literatura, reparo que existe uma necessidade de justificar de alguma forma as suas acções: um trauma, um armário, um cinto, algures no passado. Este foi o grande erro de Anthony Minghella em The Talented Mr. Ripley, tentar justificar de alguma forma as acções de Tom, ajuizar. O filme em questão é um bom momento de cinema se não conhecermos previamente a personagem principal. Caso contrário, é uma afronta ao fascinante Ripley. Liliana Cavani recoloca a personagem no trilho certo em Ripley’s Game, sem remorsos, sem consciência, quase desprovido de sentimentos.
Em muitos livros de cinema afirma-se que o espectador e o leitor procuram uma identificação com as personagens, e que quando tal acontece a experiência é muito mais enriquecedora. Balelas! Eu não me identifico minimamente com Tom Ripley e porém é uma das personagens mais fascinantes que habitam os mundos do papel e do celulóide. O cinema tem de nos dar experiências únicas. Aceito. As personagens deve ser metáforas para a condição humana. E qual a metáfora para Tom Ripley? O mal? Quer-me parecer que não, que categorizá-lo será limitar o campo de acção desta personagem. Um campo de acção de proporções megalómanas, enterrado bem fundo no mais profundo dos segredos. Um homem maior que a vida. Uma criação, como o próprio gosta de se intitular. A mais sublime das criações: uma personagem que nos confunde e fascina.

Jonathan Trevanny: Oh, hi. You're here, then. Excellent. We were hoping you'd come.
Tom Ripley: Why?
Jonathan Trevanny: Well, to... to add spice to the evening.
Tom Ripley: Meaning?
Jonathan Trevanny: You're a bit of a local personality.
Tom Ripley: Meaning?
Jonathan Trevanny: People have heard about you.
Tom Ripley: Meaning?
Jonathan Trevanny: Nothing. Just... nothing.

quinta-feira, julho 01, 2004

Shadows...

...um filme de John começa hoje Cassavetes.

Filmes que nos levam

A compra está feita, e nem dava muito jeito. Certas acções devem ser feitas sem a ajuda do cérebro e da matemática financeira. Duas vezes visto em tela, duas vezes alugado, e agora a quinta saído da minha prateleira das emoções. 25th Hour é o melhor filme dos últimos anos, ponto final. A raiva contida, a impotência frustrante, o aperto na garganta, só igualáveis numa outra obra-prima, Raging Bull de seu nome. A única diferença do filme de Scorcese é que não é o melhor filme dos últimos anos. É o melhor filme de sempre. Mais uma vez, ponto final. Passo pela prateleira, percorro os títulos, descubro os atrás referidos. Os dedos passam levemente pela lombada. Sorrio. Um minuto depois estou no sofá, e escusam de me dirigir a palavra. Já não estou cá.

Crime Wave

Através da britânica Sight&Sound descobri que o crime vai invadir as nossas televisões. De 12 a 18 de Julho temos tiros, mortes, belas mulheres, máfia, e muito noir no canal TCM. Quem não tem cabo, não tem onde se agarrar. Eu cá, agarro-me ao comando e à paixão. Deixo-vos aqui as pistas, a seguir.

Dia 12
White Heat de Raoul Walsh – 20:00
Little Caesar de Mervyn LeRoy – 21:55
Dia 13
The Big Sleep de Howard Hawks - 20:00
Dia 14
The Outfit de John Flynn - 20:00
Dia 15
Get Carter de Mike Hodges – 21:00
Cool Breeze de Barry Pollack – 23:05
Dia 16
Point Blank de John Boorman – 20:10
Slither de Howard Zieff – 21:45
Murder Most Foul de George Pollock – 03:20
Dia 17
Shaft de Gordon Parks – 20:00
Hitman de George Armitage – 21:45
Dia 18
The Maltese Falcon de John Huston – 20:15

terça-feira, junho 29, 2004

Paixões e Desejos

Um dos melhores blogs de cinema portugueses, o Paixões e Desejos, escreve ao contrário da blogosfera. A blogosfera escreveu Mystic River, depois Lost in Translation, agora Coffee and Cigarettes (pecador me confesso). O Rui escreve The Killing Fields, St. Elmo’s Fire, e quem sabe um dia talvez o encontre na Fnac, com um sorriso na cara, e na mão um The Right Stuff esquecido a preço irrisório.

Coffee and Cigarettes

Beber café e fumar cigarros faz parte da minha vida. Não posso dizer que é um daqueles momentos que marcam, tal a quantidade de vezes que o acto acontece e o automatismo com que o faço. Por vezes, o café sabe-me mal; é mal tirado; é de fraca qualidade. Outras, raras, o corpo pede-me para não fumar mais; o estômago soa o alarme do enjoo; a cabeça dorida acusa o excesso. Geralmente, é apenas reconfortante. A bebida escorre enquanto os olhos passeiam pelo jornal, o fumo rodopia nos pulmões entre politica, futebol, e ambições. Contudo, existem momentos inexplicáveis em que tais actos se tornam inesperadamente deliciosos.
Os outros, aborrecem-me várias vezes. Explicam que o café provoca isto e aquilo; apontam-me o dedo. Outros, colocam na cara o ar reprovador e incomodado quando o fumo circula no ar. Podia tentar explicar-lhes, adjectivar o meu prazer tornado vício. Para quê? É um prazer meu e só meu. São momentos que a mim pertencem. Eu gosto de cafés e cigarros. Os outros que se lixem. Não se explica. Bebe-se e fuma-se.

quinta-feira, junho 24, 2004

Partir a louça

Escrever num blogue de cinema em Portugal é uma mais valia e um caminho para se obter uma saúde de ferro e a carteira recheada. Quanto dinheiro gasta a nossa sociedade em ginásios, anti-depressivos, República Dominicana, e outros, de forma a garantir um bem estar psicológico? A nossa sociedade não saberá que não há melhor para descontrair do que partir algo? Imagine o leitor que está em stress, o trabalho que não pára de acumular, as contas, os desejos, as vontades, as filas, as finanças. Já está? Então agora imagine que lhe colocam um carro à frente e um taco de basebol nas mãos e lhe dizem: Parta ... Imagina já o stress a apagar-se, acompanhado de uma gargalhada saída de um filme de terror? Esqueça. Isso nunca vai acontecer. Portanto, ou cria um blogue de cinema ou regressa à sua vida sofrível. É que aqui, existe um taco chamado teclado, e um carro chamado cinema português. E existe também um Jorge. Invejo-o, pois com um simples taco Storytelling fez um home run. Temos jogador!

Coito interrompido

Existe sempre uma primeira vez para tudo. Ora aqui está uma frase feita, tornada já um chavão, e digna de pertencer a uma antiga lista de expressões a abandonar. Contudo, a frase é correcta e verifica-se diariamente. Por exemplo, existe sempre uma primeira vez para escrever sobre Kevin Smith num blogue de cinema. Existe também sempre uma primeira vez para ir escrever sobre Kevin Smith e não o fazer, não porque não se quer mas porque não se pode. Parece complicado, certo? Eu vou explicar. Mas primeiro, deixei-me falar um pouco sobre argumento. Para quem nunca leu nada sobre este assunto, este texto é a prova que há realmente uma primeira vez.

A maior parte dos filmes são divididos em três actos, desde o tempo dos gregos. De notar que, como tempo dos gregos entendo um passado muito distante e não apenas alguns meses atrás, desde a estreia de Troy. Troy também tem os seus três actos, mas foi escrito por David Benioff, e o artigo é, ou era, sobre Kevin Smith, logo é necessário acabar com a dissertação. O que escreveu este senhor? Por exemplo, Jersey Girl que pode ser encontrado actualmente em qualquer sala de cinema. Também escreveu Clerks, mas isso fica para quando me for possível escrever o que queria. Lembram-se? Umas linhas atrás escrevi que não podia falar sobre o assunto. Ia então falar sobre os três actos, certo? Então vamos a isso, com uma ajuda de algumas palavras em língua inglesa:
Act 1 – Setup: onde se apresenta a personagem principal se estabelecem as bases para a estória que vamos contar. O “onde”, o “quem” e o “quê”, ficam despachados nesta fase do filme.
Act 2 – Confrontation: já repararam que cada vez que o nosso herói atravessa um obstáculo encontra outro mais difícil na sua frente? É o que dói mais a um escritor, e o que mais cativa a audiência. O acto 2, quando bem construído, prende-vos nas cadeiras da sala escura.
Act 3 – Resolution: a esta fase do guião gosto de chamar momento SuperColaTrês. O que se passa por esta altura, e até ao final do filme, fica agarrada ao espectador mesmo quando ele sai da sala. Nostalgia, tristeza, vontade de mudar a vida, cola-se a nós e já não larga. Quando este acto acaba, está na altura de pagar o cartão do parque de estacionamento.
Ora, entre estes três actos existem dois plot points principais. São eles que fazem a estória virar numa direcção diferente, aliás, são eles que fazem tanto a estória como história. O primeiro ocorre em média aos 20 minutos de filme, o segundo por volta dos 90 minutos.

Vamos então pegar num filme e fazer contas. Jersey Girl (do tal Kevin Smith), numa sala do El Corte Inglés, sessão da meia-noite e um quarto. Ora, o que acontecerá quando os ponteiros assinalarem 1:30? Certo! O segundo plot point que envia o filme numa nova e surpreendente direcção. Foi o que aconteceu com o filme em questão, e foi surpreendente. Por momentos pensei ver o melhor momento de cinema de sempre. Um filme de chacha que se transforma numa homenagem ao César Monteiro. O ecrã fica negro, e assim se mantém. Que coragem! Pensei eu. Um realizador que mantém um filme desinteressante até chegar ao segundo plot point para então colocar o ecrã a negro e sem som. Que manifesto contra o cinema de pipoca!
Foi então que entrou uma senhora fardada dizendo que havia um problema com a máquina de projecção e com uns convites para uma sessão à escolha.

Portanto há sempre uma primeira vez para tudo, e esta foi uma delas. A minha dúvida é se foi sorte ou azar. Valerá a pena ver o resto do filme, ou deixar assim os últimos 20 minutos na eterna escuridão? A verdade é que nunca gostei de coitos interrompidos, e também nunca vi uma sessão a começar à 1:30 da manhã. Talvez experimente. Há sempre uma primeira vez. Só é pena já saber de antemão que qualquer orgasmo, por mais pequeno que seja, será impossível. O coito, retomado depois de interrompido, ainda pode ter salvação. Salvo se a girl for realmente horrososa ou de Jersey. Veremos. Inevitavelmente.

domingo, junho 13, 2004

Menos ais

Por vezes, os “autores” escrevem um filme “mau”. Por vezes, quem escreve abusa do uso de aspas. Usam-se as aspas quando queremos dizer algo que não é bem o que escrevemos, numa variante estilística do eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes. Ora, nós sabemos que somos nós que “produzimos” os autores, que os colocamos no “Olimpo” e que esperamos sempre “mais” deles. Chega de aspas, pois eis chegada a altura de dizer as coisas como elas são: The Ladykillers é um filme “mau”. Arre, que lá continuam as aspas! É um filme “mau”, deveras, assim como “maus” são Gangs of New York, Ocean’s Eleven, ou Amistad. Não são filmes “maus” como os verdadeiros filmes maus, mas também não são o que esperamos dos “autores”. E ser “autor” não é fácil, porque os “voyeurs” querem sempre mais, muito mais, menos ais. Mas podemos nós pedir mais? Que direito temos nós, simples abutres sentados, de pedir mais, muito mais, menos ais? A dúvida permanece, alguém que não eu que a responda. Hoje (sábado) vi The Ladykillers. Hoje (sábado) vi Portugal. Menos ais, menos ais, que eu também não fiz muito mais.

quinta-feira, junho 10, 2004

Divulgação, 2

Hoje, dia de Portugal, é também dia de cinema. Quinta-feira passou a ser recentemente o dia das estreias. E que estreias senhores! E que estreias! Numa só semana temos Coffee and Cigarettes e The Ladykillers, filmes que nos enchem de satisfação só por saber que estrearam. Esta semana estreia também um projecto diferente. Os blogs de cinema resolveram juntar-se numa “academia” que viu hoje, oficialmente, a luz do dia. A ABCine tem blogs para todos os gostos, sempre com o cinema como pano de fundo. Blogs com critica, blogs com história, blogs com notícias, blogs com crónicas. Os seus autores partilham a mesma paixão. Existem filmes medianos? Existem. Maus? Também. Péssimos? Certamente. Existe então cinema mau? Não, não pode. O cinema é sempre bom. O que fazem dele é que às vezes não respeita o formato. O formato das emoções audiovisuais em tela grande. Os senhores da “academia” gostam de estar frente a esta tela grande. A ouvir, ver, sentir, e a escrever.

terça-feira, junho 08, 2004

Divulgação

O IndieLisboa pretende ser um observatório privilegiado do que de mais interessante se passa no cinema independente em todo o mundo. Queremos revelar novos filmes e novos cineastas, promover a cultura cinematográfica e alargar os públicos de cinema, possibilitando o encontro destes com um conjunto de filmes que de outra maneira só muito dificilmente (ou tardiamente) teriam entre nós a visibilidade que merecem.

Com uma competição de filmes criteriosamente seleccionados e trazendo a Lisboa realizadores, produtores, jornalistas, críticos, etc., o festival quer afirmar-se nacionalmente de forma clara e também projectar-se internacionalmente.

Procuraremos também que o cinema português tenha uma presença significativa (atribuiremos um prémio específico), tanto mais que são os caminhos do cinema independente que a nossa cinematografia tem trilhado com mais insistência.


O Just a Kiss? vai acompanhar toda a preparação desta primeira edição do IndieLiesboa acompanhando também o festival durante a sua realização, altura em que diariamente se falará aqui de tudo o que está a acontecer. Digamos que o Just a Kiss? será, se me permitem, o blog não-oficial do IndieLisboa.

Que tudo corra pelo melhor ... ou como se diz no mundo do cinema: Muita merda!

domingo, junho 06, 2004

O Milagre Segundo Miguel

Que milagre seria! Que aparição divina! Que estrela de esperança levemente descendo os céus! Do que falo? Do que não acontece numa sala de cinema que projecta um filme português. Não, este texto não será mais uma queixa entre mais público ou melhor crítica; não será um lamento por mais conteúdo e menos forma, ou só forma, ou só conteúdo; não é mais um chorar de dinheiros públicos. Este texto é sobre um milagre. Um milagre que tarda em chegar. Um filme português que seja uma obra completa. Não, também não venho falar de primas. Aliás, nem de primas, nem enteados, nem amigos, e compadres. Venho falar de um milagre.
O que quero eu dizer com obra completa? – perguntam alguns – eu passo a explicar, mas só alguns me podem entender: todos os que já escutaram o Allegretto da sétima sinfonia de Beethoven. Quem acha que deve ser acrescentada mais uma nota a esse andamento? Quem gostaria de retirar um instrumento? Ninguém. É uma obra completa. Inicia, evolui, prossegue, descansa, explode, termina. Várias fases, diferentes momentos, mas sente-se como uma só. Nunca um filme português me fez sentir como um só. Há sempre algo, uma falha aqui, um esquecimento ali, um pormenor por trabalhar acolá. Por isso, espero pacientemente um milagre que me proporcione o merecido descanso. Espero a obra completa, que funciona como uma só peça mesmo sendo composta por dezenas de mecanismos interiores. Ritmo, imagens, sons, palavras, olhares, unindo-se numa dança perfeita que, caso fosse música seria interpretada com emoção por uma Wiener Philharmonike.
Sou ateu, mas confesso que ainda espero por um milagre.

sexta-feira, junho 04, 2004

Sobre respeito e cinema

Respeitem-se todos os filmes. Todos! Respeite-se quem tentou escrever, realizar, e montar um filme. Respeite-se quem tentou mostrar em menos de duas horas um processo que na vida real dura anos. Respeitem-se os autores, as personagens, as mudanças, os conflitos. Respeitem-se os argumentos, bons ou maus. Respeite-se quem pretende contar uma história. Respeite-se quem partilha. Só não me respeitem a mim.

Something’s Gotta Give

El Corte Inglês. Meia-noite e trinta. Uma sala de cinema vazia. Uma grande tela branca, acordes de música suave. Dezenas de lugares desabitados mas habituados a levar-nos em viagens aos locais mais inesperados. Alguém tem que ceder, porque uma sala de cinema desocupada é um atentado à arte. Até o filme mais mediano nos transporta para um lugar que não é o nosso, onde nunca estivemos, por vezes, para além da nossa imaginação; dos nossos sonhos; do nosso conhecimento.
As luzes da sala baixam lentamente; um convite afinal aceite por cinco pessoas. A tela pode agora encher-se de ficcionais misturas de Vermelho, Verde, e Azul. A viagem vai começar. É inevitável e necessário: alguém tem (sempre) que ceder.

quarta-feira, junho 02, 2004

Magnolia

Então o faraó mandou chamar Moisés e Aarão e disse-lhes: “Peçam ao Senhor que afaste as rãs de mim e do meu povo e eu deixarei que o vosso povo vá oferecer sacrifícios ao Senhor.”
Êxodo, 8

Animal curioso, a rã. Tanto serve para libertar povos como remorsos.

Mortes no cinema

O primeiro que me afirmar possuir um projecto para catalogar todas as mortes nos filmes vai receber, da minha parte, pena. Projecto impossível, quando tanto se morre no cinema. O abandono final já foi retratado de todas as formas e feitios. Mas a morte mais perturbadora de sempre ainda se encontra no pódio, talvez para sempre inigualável. Danny a morrer afogado, em frente ao olhar gélido de Ellen em Leave Her To Heaven de John Stahl. De arrepiar.

terça-feira, junho 01, 2004

Um verdadeiro amante de cinema

É aquele que ao estar cinco minutos atrasado deita o bilhete fora.

Cambada de zarolhos

O cineblog publicou uma lista das supostas 100 mulheres mais belas de sempre. Não sei qual a fonte de onde veio a lista. Das virtudes não foi de certeza. Cambada de zarolhos que deixou de fora as três mulheres mais belas de sempre. A saber, Kim Novak, Gene Tierney, e a morena do 10º Química que já não me recorda o seu nome.

Diálogos cinematográficos

Os amigos, amantes de cinema, detêm uma interessante forma de conversar sobre a sua paixão quando se cruzam nas bilheteiras. Não falam de títulos, mas sim de autores. Segue transcrição de conversa típica:
- Vais ver o Almodôvar?
- Não, hoje não me sinto com essa disposição. Fui ontem ver o Kaufman.
- Muito bom, não?
- Muito mesmo. Vou ver o Petersen.
- Boa sorte.
Risos de ambos.
- Que vais ver?
- Almodôvar
- Está na lista.
- Então vá, fica bem.
- Até à próxima.

Existe sempre a próxima. Existem sempre autores. Mas na sala só o título conta. Os autores são material para o exterior, e para o posterior.

Almodóvar, 1

Sinto que existe por aí muita dificuldade de escrever, honestamente, sobre La Mala Educación. Tenhamos calma. Eastwood realizou Blood Work; Philip Kaufman realizou Rising Sun; Scorsese realizou Gangs of New York; e até Altman realizou Dr. T & the Women. Tenham calma.

segunda-feira, maio 31, 2004

Pensamentos soltos, 3

Uma má (auto) educação fez-me descobrir Almodôvar tarde.

Inovações tecnológicas

Lembro-me!
Quando algo nos marca não se esquece. Tinha doze anos e a partir daquele dia Tom Hanks (a.k.a. Josh) seria para mim o maior tanso da história universal.
Sim, eu queria um lugar de topo numa firma de brinquedos; sim, eu queria experimentar os divertimentos mais radicais dos parques de diversões; e, Elizabeth Perkins, senhores! Ai, Elizabeth Perkins! O quanto eu desejei encontrar uma máquina Zoltar! Sonhei encontrar uma: sonhei ser Big. E depois aquele tanso, Tom de seu nome, renegando tudo para voltar à adolescência, às borbulhas, à sala de matemática, à doce morena do 12º ano inatingível. Tanso! Burro!
Colocava o filme já gasto no antigo leitor Betamax, e sempre que se dirigia pela segunda vez à máquina dos desejos eu gritava: Não! Por favor, não! ... Tanso!

Big foi o filme que me fez admitir as maravilhas do formato DVD. Quando vejo o filme em DVD, Tom Hanks deixa de ser um tanso, tornando-se antes um verdadeiro herói. Isto do digital tem muito que se lhe diga.

domingo, maio 30, 2004

Tarantino, 1

O artigo de jornal debruçava-se sobre Kill Bill Vol. 1. O jornalista apontava o objecto fetiche recorrente nos filmes de Tarantino, a mala. Escrito isto, prova-se que o jornalista estava a milhas de distância do resultado certo da sua reflexão. A resposta estava, afinal, um pouco mais abaixo dos joelhos. Claro que um jornalista de cinema nunca olha para baixo.

Para um leitura correcta da continuação deste post é fundamental seguir os seguintes passos, abaixo descritos:

1- Erguer o corpo mantendo-se de pé
2- Levantar todos os dedos dos pés
3- Tentar inclinar-se para a frente
4- Não cair (ou cair, caso seja também um fetiche)

Os pés são fundamentais para o equilíbrio da figura humana, e é avaliando o gosto, ou repugnância, que cada um demonstra por tal parte do corpo humano que podemos avaliar o quão equilibrado se é. Quentin não é muito equilibrado. Felizmente.

sábado, maio 29, 2004

O dia depois de amanhã

Será igual ao dia de hoje. Igual ao que virá depois, e depois, e depois. Até quando? Impossível saber quando se está, actualmente, no meio de uma idade da neve.

Alguns anos atrás os blockbuster eram gelados, o que os tornava maravilhosos. Olhar para as águas geladas de Jaws ou para o Delorean glacial de Back to the Future após mais uma viagem no tempo era olhar para algo fascinante. Era olhar para um bloco de gelo. Todos, os que olhávamos sabíamos que estava um bloco de gelo à nossa frente, reconhecível à primeira vista, sem necessidade de análises ou raciocínios mais profundos. Porém, quem se desse ao trabalho de limpar a primeira camada de neve sobre o gelo, podia ver o seu interior. Lá dentro, aprisionados, a humanidade, o amor, o nazismo, o sofrimento, e muito mais. Cativos na eternidade, esperando ser descobertos.

Hoje em dia, os blockbusters são apenas feitos de neve. E por mais que se escave não há nada que mereça ser encontrado. Assim é, assim será durante esta idade da neve.

O dia depois de amanhã será igual ao dia de hoje. Igual ao que virá depois, e depois, e depois. Mas sempre com alguns pequenos pedaços de granizo a caírem aqui e ali.

sexta-feira, maio 28, 2004

Pensamentos soltos, 2

A pipoca, da sala de cinema, produz o efeito contrário à maçã do Jardim do Éden.

Pensamentos soltos, 1

Chamam muitas vezes génios a certos realizadores e argumentistas.
Eu prefiro acreditar que são apenas pessoas mais atentas.

Kaufman, 2

Gosto de olhar os filmes de Kaufman como um Raging Bull de Scorsese com a estrutura narrativa baralhada.

Kaufman, 1

Todos os argumentistas colocam um pouco de si nos filmes. Charlie Kaufman coloca-se totalmente.

Numa conversa de café, em local e data esquecidos, alguém que também esqueci disse um dia: - É brilhante, cheguei à conclusão que Donald não existe, Charlie e Donald são a mesma pessoa.

De facto em Adaptation, Charlie e Donald são a mesma pessoa, mas não ficamos por aqui. Charlie é Craig em Being John Malkovich, Charlie é Chuck em Confessions of a Dangerous Mind, e em Eternal Sunshine of the Spotless Mind Charlie é Clementine e Joel, não deixando de ser curiosas as iniciais de Clementine Kruczynski. Kaufman espreme-se a si próprio e o sumo que dele extrai assume a forma das suas personagens, sempre perdidas, sempre desajustadas, mas sempre na procura do mesmo objectivo: o amor de alguém. Esta é a razão pela qual a fórmula de Kaufman não se esgota. Leio críticas e análises aos guiões de Charlie que apontam como sucesso a sua forma de baralhar as cartas colocando o espectador no centro de um labirinto de onde não sabe sair. Não. Kaufman não faz isso. Houvesse um labirinto e todas as suas paredes seriam de vidro quebrável, e onde é possível de qualquer ponto observar o nosso objectivo, a saída que é muitas vezes uma nova entrada para o eu. Podemos contornar os caminhos para lá chegar, ou simplesmente partir o vidro. Há em tudo, uma certa dose de risco.

A procura do amor é sempre um labirinto de vidro. Logo, quando Kaufman se coloca nos filmes, quando coloca a sua jornada, acaba por transportar-nos para um local que nos é familiar, já conhecido, e que também se encontra baralhado e disperso nas nossas memorias mais remotas. Os filmes de Kaufman são um puzzle, que é também o nosso próprio puzzle. Enquanto desvendamos as suas estórias, na sala escura de um cinema, alinhamos também as peças do nosso jogo. Kaufman sabe isto, porque é igual a todos nós, porque de alguma forma todos somos idênticos. A diferença está naqueles que o admitem, como Charlie.

Deixamos a sala satisfeitos porque descobrimos algo já esquecido. Confusos, é certo, mas reencontrarmo-nos connosco nunca é um processo dócil. Deixamos a sala com essa mensagem na mente: que as memorias não devem nunca ser apagadas.

Já dizia Donnie em Magnolia: Podemos cortar com o passado, mas o passado não corta connosco

quinta-feira, maio 27, 2004

Para que se saiba,

David Mamet, Walter Murch, e Robert Mckee vão ocupar muitos dos posts deste blog.
Fica desde já o aviso.

Alguém disse um dia:

Não posso dar-me ao luxo de ir ao cinema. Emociona-me muito.

Just a Kiss?

Um beijo nunca é apenas um beijo. O ser humano gosta de categorizar os tipos de beijos: de olhos bem fechados; apaixonados; fugidios; franceses. Mil? Dois mil? Perde-se a conta quando se tenta contar. Quem descobre um que seja igual que se levante, ou cale-se para sempre. São todos tão diferentes, tão únicos. Acreditar que um beijo é apenas um beijo é acreditar numa ilusão.

Este blogue, acredita que um beijo é mais que um beijo. Mesmo assim, este blogue é sobre a ilusão. Uma ilusão que também é uma paixão. É fazer amor no interior de uma sala escura. É copular com imagens e sons. É dar à luz o resultado dessa união inquietante. Este blogue é sobre cinema.